sexta-feira, 17 de abril de 2009

MESTRE SERAFIM


Serafim Tomás do Canto nasceu em Angra do Heroísmo a 12 de Março de 1844.
Mestre Serafim, como era conhecido, foi aquilo a que podemos chamar um "homem bom". Senhor de uma inteligência acima da média viveu sempre à margem dos cânones sociais vigentes e do “politicamente correcto”. Este facto não o impedia de ser merecedor do respeito, admiração e da atenção de todos.
Mestre Serafim, artista multifacetado, autodidacta, destacou-se principalmente como construtor e animador de fantoches e como “músico-afinador” e construtor de instrumentos musicais.

Como “bonecreiro” ficaram famosos três conjuntos que provocavam o delírio das assistências, maioritariamente constituídas por crianças: o presépio, a praça de touros e o circo.
Para além das inevitáveis figuras, o presépio era constituído por diversos “quadros” que, por si só, eram uma atracção: “os dançarinos” representando oito pares que, ao som das “modas” de então, executavam um movimento circular, marcando o compasso com os pés; o “grupo dos três cegos” dois executando viola e o terceiro guitarra; a “procissão do triunfo”, onde não faltavam as imagens da praxe com o Anjo do Triunfo à frente, o padre e as restantes personagens; “o homem dos sete instrumentos” que tocava “bandurra”, gaita de boca, caixa de rufos, bombo, pratos e guizos, tudo accionado de forma habilidosa para produzir som em simultâneo. Todo este conjunto era accionado por uma manivela que, ligada às figuras por complicadas engrenagens, lhes conferia os movimentos pretendidos.
A “praça de touros” era um espectáculo de fantoches sempre muito aplaudido. Aqui não faltava nada: um cavaleiro, três toureiros, um forcado toiros e o público, e eram representadas todas as sortes, todas elas coroadas com fortes e entusiásticos aplausos.
Por essa altura havia passado em Angra, com muito sucesso, a Companhia de Cavalinhos Nava, uma companhia de circo. Logo Mestre Serafim, elegendo aqueles artistas que mais agrados haviam deixado, tratou de lhes fazer cópia e montou, ele próprio, o seu circo, onde não faltavam números de acrobatas, trapezistas, equilibristas e os inevitáveis palhaços.

Mestre Serafim será para sempre lembrado como um genial construtor de instrumentos. Os de cordas eram verdadeiras obras-primas: a divisão da escala era feita com mestria inultrapassável proporcionando um afino impecável; as madeiras e as colas, aliadas, porventura, a segredos intransmissíveis, proporcionavam às caixas de ressonância excelentes resultados acústicos. Construía também, com bom desempenho, realejos de manivela e afinava qualquer instrumento musical com a perícia própria dos mais entendidos.

Viveu Mestre Serafim com o seu inseparável companheiro – um velho realejo – distribuindo alegria a troco de sorrisos.

Até que a morte os separou a 26 de Janeiro de 1925.
.

Sem comentários: